sábado, 27 de novembro de 2010

o aroma do fim;


Era início de primavera - a temporada que ela mais gostava. Um recomeço, da mesma forma que para as flores - que murchavam e caíam mortas na terra -,
que agora podiam seguir seu curso até a velhice chegar, até o escuro lhes cegar novamente.
Ela andava pela rua rápido, levantou a mão até o nariz e ainda pode sentir o forte cheiro de chocolate dos brownies que havia feito tempos antes.
Olhava ao redor e ainda via as solitárias folhas secas no chão, folhas que dariam lugar à muitas outras mais verdes que estavam por vir,
folhas que não serviam mais.

Ela sabia.Sabia que tudo que começa tem um fim, da mesma forma que tudo que termina, recomeça.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

a hora chega.


só vento frio que esvoaçou meus cabelos foi capaz de provar a minha presença alí;
as flores fúnebres do jardim na minha frente contrastavam com meu all star e minha calça jeans rasgada.
outra lágrima escapou de meus olhos e a cada soluço que eu dava, só acabava absorvendo mais tristeza e languidez.
enxuguei a lágrima das minhas bochechas na esperança de que, junto com ela, fosse levado o luto e o desamparo,
para que apenas ficassem as nossas lembranças imutáveis, nossos momentos, nossas relíquias.
cravei espinhos nos meus dedos ao apertar a rosa branca em minha mão, mas nem a dor superou meu vazio mórbido e latente.
joguei a rosa pro alto e o vento não poupou esforços pra levá-la pra longe, pra longe de mim.
assim como a rosa, você se foi;
e o pior nem era falar 'descanse em paz',
o pior era completar com um doloroso e infinito 'pra sempre'.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

exatamente o que eu procurava,


timidamente, virei o olhar em sua direção e você ainda me olhava fixamente.
seus olhos negros prenderam minha atenção e eu dei um sorriso sem graça;
você retribuiu com aquele sorriso torto que eu adoro, me fazendo corar e olhar pro chão;
apertei com força o bilhete na minha mão desejando que ele fosse real;
abri o pedaço de papel nervosa, não sei o que esperava que estivesse escrito alí, mas daí achei o que eu procurava.
um 'eu te amo' escrito com aquela caneta verde que você tinha me pedido emprestada ontem.
olhei novamente pro chão, escondendo o sorriso, e olhei pra você; você ainda não tinha aberto o bilhete que eu te mandei,
mas eu acho que, assim como eu, você sabia o que ia encontrar alí.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

e nada disso importa mais.






quando o vento que me lembra você tocar minha face e enxugar a lágrima que escorre latente, eu saberei o que realmente vale a pena.
e se perguntarem, direi que é só o vento lá fora
derrubando fronteiras, abrindo horizontes,
cicatrizando feridas

feridas que talvez nem impotem mais.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

convivendo com seu imaginário. ou não;


as feridas abertas no meu peito não doíam mais, ou a dor já havia se tornado parte de mim.
olhei pra fotografia emoldurada na parede do meu quarto - que estava exatamente da mesma forma desde quando você se foi - e vi nós dois felizes,
uma felicidade engraçada, não é ? que hoje só me faz pensar no quanto eu fui boba e ingênua ao acreditar nas suas promessas ridículas e fantasiosas.
num lapso, arranquei nossa foto da parede, achando que, ao queimá-la, livraria minha mente dos constantes pensamentos em você.
sentei novamente na cama e, na parede, a marca de onde estava o quadro era evidente.
você ficou em mim por muito tempo, não foi ? os vestígios de você estavam por toda parte - nada que não pudesse ser revertido.
mas agora nada disso importa mais, e esse não será um recomeço frustrado como todos os outros;
esse vai dar certo, será minha subida e sua queda.
quem sabe um dia você vai acordar pela manhã tendo consciência dos seus erros ?
torço pelo dia em que você vai passar por tudo que você me fez passar.
desejar o seu mau não me torna uma pessoa impura, nem horrível.
já tentou provar só uma fração de tudo de errado que você fez com os outros ?
e então ? que sabor tem seu veneno ?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

querer estar ao seu lado.




o escuro amalgamou minha mente perturbada e, como numa síncope, fui tomada por inteiro.
o seu vulto veio em minha direção e eu ri histericamente da minha condição impotente.
você pareceu não achar graça e continuou caminhando, imparcial.
eu não sentia o vento que lambia seus cabelos, não conseguia lembrar de absolutamente nada;
nem sequer havia visto você antes.
quando chegou perto de mim, o medo me consumiu.
abri os lábios pra falar alguma coisa, mas as palavras fugiram da minha mente, e assim como eu, se sentiram perdidas.
você deu um sorriso piedoso pra mim e eu repugnei seu sentimento.
abriu os lábios e perguntou 'pronta pra viver novamente, anjo ?'
não sabia o que responder, mas sua voz foi capaz de cessar o meu medo e o meu desamparo.
não sabia onde estava nem o que iria acontecer comigo, apenas o sangue pulsava na minha cabeça vazia.
quando te conheci estava tudo escuro.
eu sabia que não sairia dali tão cedo.
eu conheci a noite e, por um segundo, desejei que ela fosse eterna.
eu conheci a noite.

domingo, 21 de novembro de 2010

quando o melhor é seguir.


a saudade é imensa, assim como a força que me impulsiona à seguir em frente
negando minhas vontades, continuo seguindo, conhecendo a imensidão do vazio, a imensidão do desconhecido,
a imensidão da solidão.
solidão que hoje me consome por inteira, mas que é melhor do que a escuridão, pois na escuridão propagam os demônios do que me torna infeliz,
e que, do infeliz, me torna vazia.
vazia de tudo que importa;
vazia de tudo que me lembra você.
mesmo assim, apesar de tudo, eu continuo andando,

e sem olhar pra trás.

arriscando;



lembranças perdidas do que um dia me fez sorrir.
lembranças que, como o vento, vão e levam consigo o que tem por perto, ou o que tinha de bom alí;
que levaram as coisas, as quais valia a pena lembrar
flores, amores;
flores que desabrochavam, simplismente por saberem que aquilo me fazia feliz,
amores que se foram, e que não voltam mais,
e agora quando olho pra tras, não vejo mais nada pelo qual valha a pena me arriscar;
nem pelas lembranças perdidas eu me arriscaria novamente,

talvez.